Sociedade Gèlèdè O Culto ao Poder Ancestral Feminino

SOCIEDADE GÈLÈDÈ, RITUAIS DE IPADE EA MITOLOGIA DE Ọ̀ṢỌ́Ọ̀SÍ
A Gèlèdè é uma sociedade secreta iorubá que homenageia como Ìyámi Àjẹ́ (“Mães Feiticeiras”), reconhecida pela UNESCO como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. Sua função principal é mediar o poder das mulheres antigas , considerando as guardiãs da fertilidade e da ordem social.
Estrutura e Práticas
- Participação: Homens vestem máscaras femininas ( Gèlèdè ) e dançam para aplacar a ira das Ìyámi , enquanto mulheres iniciavam ( erelú ) supervisionavam os rituais.
- Festival Anual: Realizado na estação seca (março-maio), inclui:
- Efe: Cerimônia noturna com cantos satíricos que criticam problemas sociais.
- Danças com máscaras: Representam temas como maternidade, justiça e ecologia, utilizando superestruturas esculpidas com figuras humanas e animais.
- Máscaras Pedagógicas: Adornos com temas cotidianos (ex.: maternidade, caça) servem para educar a comunidade e estimular normas éticas.
Rituais de Ipade: A Assembleia das Àjẹ́
Ipadé refere-se a cerimônias reservadas onde se invoca o poder das Ìyámi Àjẹ́.
São realizados em contextos específicos:
- Proteção: Para neutralizar epidemias ou ataques espirituais, usando agbá (cabaças ritualísticas) com elementos como penas de coruja e sangue sacrificial.
- Hierarquia: Lideradas por Ìyálóde (autoridade feminina máxima), desative que participantes:
- Cruzem a barriga ao pronunciar “Òṣòròngà”, evitando maldições.
- Jejuempor três dias, consumindo apenas inhame branco e água.
Mitologia de Ọ̀ṣọ́ọ̀sí: O Caçador Divino
Ọ̀ṣọ́ọ̀sí (ou Òṣóòsì ) é um orixá caçador associado à floresta e à sobrevivência, cujo mito se entrelaça com o culto às Àjẹ́:
- Origem: Filho de Ọbàtálá e Yemọjá , é descrito como protetor de caçadores e guardião dos segredos da mata.
- Relação com as Àjẹ́:
- Aliado: Usa ervas sagradas ( ewé Àjẹ́ ) para neutralizar feitiços, sob orientação de Èṣù.
- Tabus: Proibido caçar à noite, quando as Àjẹ́ Dúdú operam.
- Representação no Brasil: Associado a São Sebastião, mantém seu caráter austero e conexão com a natureza, guerreira, conhecimento e caçadora.
Interconexões Ritualísticas
Elemento | Geléia | Ipadé | Ọ̀ṣọ́ọ̀sí |
---|---|---|---|
Função | Mediação do poder feminino | Controle de forças místicas | Proteção contra ameaças |
Participantes | Homens mascarados | Sacerdotisas vivenciadas | Caçadores e ervanários |
Símbolos | Máscaras com superestruturas | Agbá com pássaros místicos | Arco e flecha de metal |
A Teia Cosmológica Iorubá
A Gèlèdè revela o respeito ao matriarcado ancestral, o Ipade demonstra o rigor no trato com forças ocultas, e Ọ̀ṣọ́ọ̀sí personifica a harmonia entre humanos e natureza. Juntos, esses elementos compõem um sistema onde:
“Àṣẹ ni ilẹ̀ ẹ̀mí”–“O poder vital está na terra do espírito”, lembrando que nenhuma força envelhece isoladamente na cosmologia iorubá.
Detalhamento Complementar
- Gèlèdè no Brasil: Embora não haja registros de sociedades Gèlèdè ativas no país, seu simbolismo influencia grupos de matriz africana que cultuam Ìyámi.
- Ọ̀ṣọ́ọ̀sí e a Medicina Ancestral: Seus rituais incluem o uso de ewé ìyámi (ervas das feiticeiras) para cura, sempre sob supervisão de Babalorixás.
Citação Final:
Estudar Ìyàmi como símbolo ancestral feminino nas práticas religiosas afro-brasileiras, resgatando sua identidade, mitologia, celebrações, oferendas e influência no culto aos orixás, além de superar visões preconceituosas e redutivas associadas ao poder feminino ancestral.
Principais Pontos
1. Mitologia e Origem de Ìyàmi
- Ìyàmi é a mãe primordial, divindade das práticas religiosas afro-brasileiras, associada à fecundidade, criação e poder ancestral feminino.
- Na mitologia iorubá, Olodumare concedeu a Odú (aspecto de Ìyàmi) o poder sobre a Terra, simbolizado pelo pássaro (Eleye), representando a força vital (axé).
- Mitos destacam seu papel na criação e equilíbrio do mundo, como líder das ajé (mães poderosas) e sua relação com divindades como Oxum, Yemoja, Oya e Nàná.
Ìyàmi no Brasil
- O culto a Ìyàmi chegou ao Brasil com os escravos africanos, mas foi marginalizado ou sincretizado, muitas vezes associado a figuras como Pomba-Gira na Umbanda.
- Em terreiros tradicionais, Ìyàmi é lembrada no ritual do Ipadê e ipse (oferendas entregues a Exu), mas seu culto é restrito e secreto.
- Recentemente, há um resgate do culto a Ìyàmi, especialmente em São Paulo e Petrópolis, com iniciações e celebrações específicas.
Celebrações e Oferendas
- O culto a Ìyàmi é fechado e exige preparo moral e espiritual.
As oferendas incluem água, sangue, cabaças, penas de pássaros e outros símbolos ligados à vida e à terra. - Ìyàmi está presente em todos os rituais, pois “nenhuma cerimônia pode ser realizada antes que oferendas lhe sejam dadas” (Pierre Verger).
Símbolos de Ìyàmi
- Terra, água, pássaros, cabaças (útero), coruja (símbolo de sabedoria e mistério) e menstruação (sangue vital).
- Objetos como Edan (figuras masculina e feminina) e máscaras Gèlèdè representam seu poder.
Identidade e Poder de Ìyàmi
- Ìyàmi não é “bem” ou “mal”, mas uma força ambivalente que pode criar ou destruir, conforme o contexto e a intenção.
- Seu poder está ligado ao destino humano, à saúde, à prosperidade e à justiça.
- A pesquisa resgata sua identidade como divindade primordial, superando visões deturpadas que a igualam a forças malignas.
Conclusão
Ìyàmi é essencial no culto aos orixás, representando o poder feminino ancestral e a conexão entre o visível (ayé) e o invisível (orun). Seu estudo contribui para a valorização da cultura afro-brasileira e para a superação de preconceitos enraizados na sociedade.
Palavras-chave: Ìyàmi, mãe ancestral, Gèlèdè, símbolo, feminino.
“Gèlèdè ńṣe àṣẹ ìyá, Ipade ńṣe àṣẹ ọkàn”–“Gèlèdè executa o poder das mães, Ipade executa o poder do coração”, sintetizando a dualidade entre manifestação pública e ritualística privada
Ọ̀ṢỌ́Ọ̀SÍ EA RELAÇÃO COM AS ÌYÁMI ÀJẸ́: ENTRE O CONFLITO E O EQUILÍBRIO
Nota: Ọ̀ṣọ́ọ̀sí não está diretamente vinculado a Àjẹ́, mas sua atuação nas florestas ou coloca em contato frequente com seu domínio.
Ọ̀ṢỌ́Ọ̀SÍ (OXÓSSI) E O MITO DA PERSEGUIÇÃO DÀS ÌYÁMI
Segundo o Odù Ọ̀sá Méjì , as Ìyámi Àjẹ́ foram responsáveis por introduzir o sofrimento em Àyé (Terra) após testemunharem a maldade humana. No entanto, a relação entre Ọ̀ṣọ́ọ̀sí e as Àjẹ́ é mais complexa, envolvendo alianças tácitas e conflitos ritualísticos :
- Ọ̀ṣọ́tókanṣoṣo (Oxotokanxoxô):
- O Caçador de Kétu: Único homem que derrotou diretamente como Ìyámi, derrotando o “pássaro maligno” (símbolo do poder destrutivo das feiticeiras).
- Divinização: Após sua vitória, foi elevada a Ọ̀ṣọ́ọ̀sí , tornando-se guardião contra ataques místicos e protetor das comunidades .
- Perseguição Recíproca:
- Àjẹ́ como Caçadoras: As Ìyámi, em forma de pássaros ( ẹlẹ́yẹ ), perseguem humanos que violam tabus, participam como “justiceiras cósmicas”.
- Ọ̀ṣọ́ọ̀sí como Neutralizador: Utilize ervas sagradas ( ewé àjẹ́ ) e flechadas ritualísticas para dissipar ataques, sempre com a mediação de Èṣù.
Hierarquia e Mediação de Poderes
Elemento | Função | Relação com Ìyámi |
---|---|---|
Ọ̀ṣọ́ọ̀sí | Caçador-divindade | Neutraliza ataques com conhecimento herbal |
Èṣù | Mensageiro e mediador | Facilitar pactos entre humanos e Àjẹ́ |
Oxum | Senhora do mel e da diplomacia | Acalma a ira das Àjẹ́ com ofertas de doces |
A “Perseguição” como Equilíbrio Cósmico
- Mito Fundador:
- Traição Humana: Os humanos quebraram o juramento primordial com as Ìyámi, provocando sua ira e a criação dos Ajogun (espíritos da adversidade).
- Missão de Ọ̀ṣọ́ọ̀sí: Restaurar o equilíbrio através do controle das forças selvagens , tanto da natureza quanto das Àjẹ́
- Práticas de Neutralização:
- Sacrifícios Preventivos: Oferecer ẹran ọ̀dàn (carne de caça) em encruzilhadas para distrair as Àjẹ́.
- Ìmùlẹ̀: Pactos, Bere e Marcas corporais com osùn (pó vermelho) e ewé rírú (ervas de proteção) para evitar possessões .
Distinção Entre Conflito e Reverência
- Tabus de Caça:
- Evitar Jaqueiras à Noite: Locais onde as Àjẹ́ se transformam em pássaros.
- Não Matar Corujas: Consideradas mensagens de Ìyámi Òṣòròngà.
- Rituais de Colaboração:
- Gèlèdè: Homens honram as Àjẹ́ através de danças, evitando retaliações.
- Ipade: Sacerdotisas experientes negociam com as Àjẹ́ para proteger comunidades.
Conclusão: A Dança entre o Caçador e as Mães
A “perseguição” entre Ọ̀ṣọ́ọ̀sí e as Ìyámi não é um conflito literal, mas uma metáfora do equilíbrio entre:
- Ordem Masculina: Representada pelo caçador divino, que domina a natureza.
- Caos Criativo Feminino: Encarnado pelas Àjẹ́, que testa a ética humana.
Como ensina o Odù Ọ̀wọ́nrín Méjì :
” Àjẹ́ ò lè pa ẹni tí Ọ̀ṣọ́ọ̀sí fẹ́ gbà”– “Nenhuma Àjẹ́pode matar quem Ọ̀ṣọ́ọ̀sí decidir proteger” .
Relato de Ọ̀ṣọ́tókanṣoṣo e divinização. Mito da origem do sofrimento e pacto quebrado. Práticas de neutralização e hierarquia ritual.
Nota: A relação entre Ọ̀ṣọ́ọ̀sí e Ìyámi varia regionalmente, sendo mais conflitante em Kétu e mais colaborativa em Ọ̀yọ́.
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