A Reencarnação Segundo os Iorubás

Muitas pessoas têm questionado qual é a visão de reencarnação segundo os iorubás, especialmente dentro do Ẹ̀sìn Òrìṣà Ìbílẹ̀ (o Culto Tradicional aos Orixás). Este tema é profundo e de grande importância para compreender a espiritualidade original dos povos iorubás, que habitam regiões do Oeste da África, especialmente na Nigéria, e que tiveram forte influência na formação de diversas religiões de matriz africana no Brasil, como o Candomblé, a Umbanda e o Batuque.

Infelizmente, há um desconhecimento geral sobre como os iorubás enxergam a reencarnação, o que leva muitas pessoas, inclusive sacerdotes e devotos de Òrìṣà, a afirmações equivocadas de que ela não existe dentro do culto à Òrìṣà. Outros ainda associam a reencarnação a conceitos católicos, kardecistas ou indianos, sem compreender que, na cultura tradicional iorubá, ela possui uma concepção própria, que merece ser respeitada e estudada.

Reencarnação no Culto a Òrìṣà: Àtúnwá

Para os iorubás, a reencarnação é conhecida como Àtúnwá, termo que significa “retorno” ou “voltar de novo”. Essa ideia está intrinsecamente ligada à compreensão do mundo espiritual e do destino do ser humano. Os iorubás acreditam que o Mundo Espiritual, chamado Ọ̀run, é nossa verdadeira casa, enquanto o mundo terrestre, Ayé, é visto como um mercado, um espaço de experiências temporárias, onde viemos aprender, adquirir conhecimento, evoluir e exercer o livre arbítrio.

Ao contrário de outras tradições, os iorubás não possuem um número fixo de vidas que precisam reencarnar para “evoluir” ou “pagar dívidas” espirituais. Para eles, a encarnação na Terra acontece por livre arbítrio, como uma oportunidade de vivenciar diferentes situações, aprender com elas e, ao final de cada ciclo, retornar ao Ọ̀run com conhecimentos adquiridos. A vida na Terra é, assim, uma fase de aprendizado, não uma punição ou uma etapa obrigatória de evolução espiritual.

Além disso, os iorubás acreditam que, após a morte, o espírito pode permanecer na ancestralidade, tornando-se um Egúngún, uma divindade ancestral que é cultuada pelos descendentes. Alguns, com méritos e ritos específicos, podem optar por não reencarnar mais, tornando-se divindades ancestrais que auxiliam na proteção, crescimento espiritual, material e social de suas famílias e comunidades.

Provas da Crença na Reencarnação: Os Nomes e os Ritos de Ẹsẹ̀táyé

A crença na reencarnação entre os iorubás tradicionais é evidenciada por práticas culturais e rituais específicos, como os nomes recebidos por crianças ao nascer. Logo no terceiro dia de vida, realiza-se o rito chamado Ẹsẹ̀táyé, através do qual um oráculo é consultado para identificar a origem, características e destino da criança.

Se a criança for considerada a reencarnação de um ancestral, especialmente de um avô ou bisavô, ela recebe nomes que indicam esse retorno. Por exemplo:

• Bàbátúndé: significa “o pai retornou”, para uma criança considerada a reencarnação de um avô ou bisavô.
• Yèyétúndé: significa “a mãe retornou”, para uma criança que seria a reencarnação de uma avó ou bisavó.

Esses nomes representam uma evidência clara de que os iorubás tradicionais acreditam na reencarnação, considerando-a uma parte natural de sua cosmologia e espiritualidade. Negar essa crença é desconhecer a cultura e a espiritualidade autêntica do povo iorubá.

Portanto, é fundamental que os devotos de Òrìṣà, independentemente da tradição que sigam, busquem aprofundar seus conhecimentos nas fontes orais e literárias confiáveis da cultura iorubá. Sua espiritualidade é rica, ancestral e própria, não devendo ser confundida ou diluída por interpretações externas que não fazem jus à sua essência.

Respeitar e entender a verdadeira visão de reencarnação segundo os iorubás enriquece nossa prática e fortalece nossa conexão com as raízes culturais e espirituais que nos sustentam. Afinal, a sabedoria dos nossos ancestrais é um tesouro que deve ser preservado e transmitido com fidelidade.