ITELODU E O SACERDOTE DE ÒRÚNMÌLÀ
Iniciação de Babalawo
Nos últimos anos, tem-se discutido bastante sobre ifá e diversas publicações têm surgido a respeito dos rituais de iniciação. Entretanto, me impressiona a falta de uniformidade na abordagem desses temas no Brasil, visto que no território yoruba são apresentados de maneira consistente por todas as famílias.
Com o objetivo de esclarecer nossos leitores, respeitando todas as normas de divulgação, iniciamos aqui um diálogo. É importante ressaltar que não possuímos a verdade absoluta, mas estamos bastante à vontade para relatar o que é praticado em todos os rituais, tanto por nós quanto por nossa família na Nigéria.
Até recentemente, a escassez de contatos com os yorubanos dificultava a validação do que é escrito aqui no Brasil. Recomendo às pessoas que tenham incertezas acerca do que escreverei que procurem informações junto a Bàbàláwos nigerianos.
O itelodu, além do reconhecimento do filho (Bàbàláwo) por sua mãe (Iya odu), pode ser compreendido de forma didática como o reencontro de uma mãe com um filho que, por motivos diversos, esteve afastado.
Essa cerimônia, de beleza infinita e alta seriedade, indica que, a partir daquele instante, o awo pode, no futuro, tornar-se um bom sacerdote ou não.
O itelodu não isenta os faltosos das consequências de suas ações. Como já mencionei anteriormente, uma iniciação não é um salvo-conduto para a desonestidade, assim como não oferece proteção aos inescrupulosos. O fato de estar iniciado no culto de Iya odu não torna ninguém intocável.
O termo Ìtélè, em Yoruba, significa começo; assim, podemos descrever o início da relação entre um filho e sua mãe. Na cerimônia do itelodu, o awo entra vendado em um ambiente completamente escuro, simbolizando seu desconhecimento sobre o ritual e sua confiança no que está por vir.
Com o coração aberto e em harmonia com seu destino, o potencial novo sacerdote dependerá bastante de seu caráter e comportamento para receber o apoio de sua mãe (Iya Odu).
Encontrei na internet um texto que descreve o itelodu como o momento em que um novo odu é extraído para o sacerdote; porém, no território yoruba, isso não acontece!
No novo mundo, por interesses que não abordaremos aqui, o itelodu tornou-se parte de uma cerimônia que é, com frequência, única na Nigéria.
Se, na consulta que precede a iniciação, o iniciado é apontado como um provável Bàbàláwo, dentro do Igbodu, no momento em que se reconhece o odu de nascimento, a continuidade do ritual e a apresentação a Iya odu dão início ao itelodu. Isso é uma consequência inevitable, embora possa ocorrer que, no itefa, se constate que o awo tem um caminho diferente do de Bàbàláwo.
Contudo, quando se identifica que este será um Bàbàláwo, o itelodu e o itefa fazem parte de um único processo. Na hipótese de um awo, por alguma razão, realizar o itelodu separado do itefa, o odu de nascimento permanece inalterado e o terceiro odu extraído no itefa apenas trará as orientações de ifá para o cotidiano.
O terceiro odu, conhecido como pada odo (a volta do rio), não é o odu de nascimento; este é único e, ao se tornar sacerdote, o odu continua o mesmo, os ewos permanecem os mesmos e a indicação dos principais orixás a serem cultuados continua inalterada.
O odu de sacerdócio, sem dúvida, é o odu de nascimento que determina essa função, não porque o awo tenha passado por uma cerimônia, mas sim porque ele nasceu com essa escolha, que foi testemunhada por Òrúnmìlà.
Existem três maneiras bem distintas de alimentar Iya odu: na primeira parte do itefa, ela é alimentada de um certo modo; na confirmação do itelodu, Iya odu recebe alimento de outra forma; e na consagração de Iya odu (recebimento do Igbá), ela é alimentada de uma maneira que une os dois anteriores em um só ato. Qualquer uma dessas cerimônias, normalmente, é realizada ao longo de três dias.
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