Omolokô 2
O Babalorixá Alex de Oxalá explica que a palavra “Omolokô” tem origem na língua Yorùbá, significando “Ọmọ” (filho) e “Oko” (fazenda). Segundo o autor, a fazenda é o espaço rural onde esse culto era realizado, especialmente em função da repressão policial que ocorria no início do século XX, frequentemente em áreas de difícil acesso ou em matas, interior das propriedades de senhores de escravizados.
Essa situação poderia explicar as atuais denominações de “Terreiro” e “Roça” para os locais onde se praticam cultos afro-brasileiros e de matriz africana.
Além disso, o significado de Omolokô pode ser relacionado com os Òrìṣà Oko, o orixá da agricultura, ou ainda com o Òrìṣà Irókò, que habita uma árvore homônima e é cultuado no Candomblé. Há relatos de que Oko era venerado no Rio de Janeiro, ao lado do Òrìṣà Ọṣọ́ọ̀si (Oxossi), ambos caçadores, embora não haja documentação que corrobore essa afirmação.
Uma outra associação a se considerar é a ligação com o vodun Loko, venerado pelo povo Fon-Jêje, que corresponde ao orixá Irókò. Este orixá, por sua vez, é identificado com o Inkisi Tempo (Kitembo) na nação Angola do Candomblé. Durante o período de proibição dos cultos de origem africana, esse orixá foi sincretizado com Santo Onofre.
Pesquisas recentes indicam que o nome Omoloko também está relacionado ao povo Loko, que habitava regiões ao longo dos rios Mitombo, Bênue e Níger, assim como na costa de Serra Leoa. Lokoja, a principal cidade do povo Loko, fica próxima ao reino Yorùbá. Acredita-se que alguns escravizados desse povo no Brasil tenham contribuído para o que é conhecido como Nação Omolokô.
De acordo com Taata Tancredo da Silva Pinto, organizador e defensor da Umbanda Omolokô, o culto Omolokô chegou ao Brasil a partir do sul de Angola, onde era praticado por uma pequena tribo do grupo Lunda-Quiôco, situada às margens do rio Zambeze.
Para os antigos do culto banto que se disseminou principalmente no Rio de Janeiro durante a primeira metade do século XX. A etimologia do nome pode estar ligada ao quimbundo “muloko,” que significa “juramento,” ou ao suto “moloko,” que remete a “genealogia,” “geração” ou “tribo.” Na Angola pré-colonial, o Nganga-ia-Muloko era o sacerdote responsável pela proteção contra raios.
Assim, podemos afirmar que o termo Omolokô se refere a um culto que emergiu no Rio de Janeiro, englobando rituais e honras aos Orixás, Bacuros/Inkices ou Voduns, além de incluir a veneração a Caboclos, Pretos-velhos, Exus e outras Entidades Espirituais da Umbanda, bem como entidades do Catimbó-Jurema, Toré, Babaçuê, e Tambor de Mina.
Estudiosos e praticantes apontam o culto Omolokô como um dos principais fatores de formação da Umbanda africanizada, coexistindo com o Candomblé de Caboclo, a Cabula e o próprio Candomblé.
Embora essa conexão seja forte no Rio de Janeiro, sabe-se que o Omolokô se organizou por regiões do sudeste do Brasil, que enviaram grandes contingentes de migrantes para a capital do antigo Estado da Guanabara. O Omolokô era significativo na zona da mata mineira, em diversas partes do estado do Rio de Janeiro, no nordeste de São Paulo e em áreas rurais do Espírito Santo. As migrações internas contribuíram para disseminar essa vertente da religião afro-brasileira na cidade do Rio de Janeiro, onde, no início do século XX, existia um Terreiro na antiga travessa do Castelo, sob a direção de um tal João Gamba, natural de Luanda, cujos rituais possuíam semelhanças marcantes na incorporação e ressignificação de diversas tradições religiosas.
No culto Omolokô, as divindades têm nomes nas línguas Yorùbá, Fon-Ewe ou Congo-Angola. A maioria dos Terreiros Omolokô cultua os Orixás, de forma semelhante ao Candomblé Ketu, utilizando Oríkì (poemas elogiosos que exaltam os valores e importâncias de Orixás e autoridades) para homenageá-los. Os nomes iniciáticos, ou Orúkọ, são definidos através do Jogo de Búzios, e os assentamentos em Terreiros refletem os que são feitos no Candomblé. Os Exus são esculpidos em argila, com a forma de um busto, ou simbolicamente, em ferro.
Taata Tancredo afirmava que “a Umbanda é africana, um patrimônio da raça negra” e se divertia ao ouvir líderes da Umbanda Branca dizerem que a religião era apenas influenciada por tradições africanas. Para ele, a Umbanda possui raízes africanas, como evidenciado em suas afirmações:
Um Terreiro de Umbanda que não utilize tambores ou outros instrumentos rituais, que não cante pontos em línguas africanas, que não faça sacrifícios e não prepare comidinhas para os santos, pode ter outras características, mas não é um Terreiro de Umbanda.
Para reforçar a identidade africana da Umbanda e oferecer formação cultural aos praticantes do Omolokô, ele criou no Rio de Janeiro o primeiro curso de língua e cultura Yorùbá.
Na Umbanda Omolokô, a iniciação é realizada para Orixás, Voduns ou Bacuros, com o iniciando passando pelo ritual na “camarinha” por pelo menos três dias. Além da divindade tutelar, que é assentada primeiro, o membro do Terreiro também é iniciado em mais duas divindades que farão parte de seu “enredo” espiritual.
A consagração das entidades espirituais que serão invocadas também ocorre, com assentamentos específicos.
Várias casas de Umbanda, reconhecidas pela sua prática africanista, surgiram do culto Omolokô ou das antigas Casas de Macumba, que, posteriormente, foram formalmente reconhecidas como praticantes do culto Omolokô, especialmente após a divulgação de suas práticas por meio de obras de Taata Tancredo da Silva Pinto. Essas casas mantiveram uma estrutura de veneração aos Orixás, em harmonia com seus guias espirituais.
No site da Federação de Umbanda do Brasil (FUB), é possível encontrar a seguinte afirmação sobre a Umbanda Omolokô:
Não temos a intenção de declarar que a Umbanda Omolokô é melhor ou pior. Penso que a Omolokô é a mais “original”, no sentido de suas manifestações, mais próxima do que as entidades que habitam os cultos afro-brasileiros ou afro-ameríndios representam. No Omolokô, as entidades não se restringem a comportamentos “doutrinados”, onde tudo é normatizado; elas podem se manifestar livremente, o que é bastante desejável. Babalorixás e Yálorixás não impõem como as entidades devem se manifestar, mas definem o comportamento ético que se espera dos médiuns, colaborando para seu crescimento espiritual e atraindo para si entidades de Luz.
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